
A moda sustentável é para todos? Uma reflexão

Esta questão, da acessibilidade da moda sustentável é um tema que me intriga, há muito tempo. Já me deparei inúmeras vezes com comentários sobre isto. Alguns muito pertinentes que me fizeram repensar, outros muito descabidos, fruto da desinformação. Mas, seja como for, acredito que esta é uma das questões mais recorrentes quando falamos de moda sustentável.
Como estamos no instagram (@hippiepanda_) a falar de roupa em segunda mão (como uma forma de moda sustentável). Achei que fazia sentido, falar disto agora. Pois, é um tema que está na lista de coisas que quero escrever no blog, há bastante tempo .
Este artigo, vai ser, mais do que tudo, UMA REFLEXÃO. Não esperes respostas exatas ou certas. Será mais uma partilha de pensamentos.
Para começar, vamos ao inicio da discussão (no bom sentido, claro!):
o que é a moda sustentável?
Embora saiba o que significa, queria mostrar-te uma definição “oficial”. Curiosamente, não foi assim tão fácil encontrar uma.
Quando falamos de sustentabilidade, em que área for, acho que é sempre interessar relembrar a definição da ONU quanto a desenvolvimento sustentável*: desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. A sustentabilidade deve ser pensada a nível ambiental, social e económico.
Assim, podemos concluir, de uma forma muito simplista, que a moda sustentável é uma forma de produzir e consumir roupa que atenda às NECESSIDADES atuais sem comprometer as necessidades futuras (a nível ambiental, social e económico).
Claro que, para percebermos a complexidade deste tema, é necessário recorrermos a uma definição mais aprofundada. Da procura que fiz, achei esta definição, muito completa e interessante. Deixo, em seguida, um excerto.
Moda sustentável é um processo de mudança nas formas de pensar e nas práticas de design, produção, comunicação, vestir e desfrutar a moda, que valoriza a diversidade, a prosperidade e o bem-estar das pessoas e do meio ambiente. (…) Isso significa uma radical “desaprendizagem da moda como a conhecemos” (7), desenraizando a lógica do crescimento infinito, superprodução e consumo excessivo e, em vez disso, encontrando maneiras novas e mais ricas de desfrutar e dar valor à moda. (tradução livre).
The Sustainable Fashion Glossary, Condé Nast em parceria com Centre for Sustainable Fashion, London College of Fashion, University of Arts London.
*esta definição da ONU é discutível e a própria palavra “desenvolvimento” para nos referirmos a sustentabilidade também. Mas isso, talvez seja tema para outro artigo, outro dia. De qualquer forma, para perceberes o que é a moda sustentável esta definição serve perfeitamente.
O que cabe neste conceito
Como viste no titulo anterior, a moda sustentável é um chapéu para várias formas de fazer e pensar a moda. Essa é a principal razão que me leva a acreditar que sim, a moda sustentável pode, eventualmente, ser para todos.
Dentro da moda sustentável, falamos de:
- roupas feitas de forma ética (para pessoas e animais);
- roupa que não danifica o planeta ou suga os seus recurso (produção sustentável, biodegradável);
- roupa feita a pensar na circularidade (para ser “refeita” no final do seu ciclo de usa);
- consumo de moda, de forma consciente (conceito oposto de consumo sem pensar, consumismo);
- Utilizar ao máximo a roupa que já temos;
- Trocar roupa, consumir em segunda mão, alugar;
Se quiseres aprofundar um pouco mais sobre o que engloba este conceito, vê este artigo, achei interessante.
Porque é que a moda sustentável é para todos?
Bem, em primeiro, acho importante esclarecer isto: esta questão da moda sustentável é, obviamente, uma questão para pessoas com um padrão de vida/consumo ocidental. Não estou à espera que alguém que não consiga satisfazer as suas necessidades alimentares (por exemplo) esteja preocupado com isto. Aliás, os mais pobres, por (infeliz) força das circunstancias, não contribuem para o principal problema relacionado com (in)sustentabilidade na moda – o excesso de consumo. Por isso, essa questão, a meu ver, nem se coloca.
Quando falo deste “todos” falo de pessoas com um nível de vida suficiente para consumirem mais roupa do que aquela que precisam.
Esclarecendo isto, sim, acredito que todos podem ter um consumo de moda mais sustentável.
Por exemplo, muitas vezes vejo pessoas a criticarem marcas com preços mais elevados (ou justos) que pagam aos seus colaboradores salários dignos, que utilizam materiais melhores. Essas pessoas que criticam, são as mesmas que, todos os meses, compram ( desnecessariamente) roupa em marcas de fastfashion. Claro que nem toda a gente é assim. Mas, em alguns casos, o dinheiro que as pessoas gastam em (excesso de) roupa produzida de forma, tudo menos ética e poluente, era suficiente para pagar o preço da moda justa.
Para além disso, acredito que existem outras formas de consumir moda com valores mais “acessíveis” que a maioria das pessoas consegue pagar. Falo de roupa em segunda mão, mercados de troca de roupa ou mesmo trocas entre amigos e família. Transformar peças que já temos, etc.
Por ultimo, muitos de nós, ainda têm a hipótese de apenas usar a roupa que já temos. A verdade é que, na maioria das casas, há roupa a mais (fruto de anos de consumo “inconsciente”).
conclusão:
Eu acredito que a moda sustentável é para todos. Ninguém será 100% sustentável, mas todos podemos adoptar hábitos sustentáveis em relação à roupa.
Infelizmente, nem todos podem pagar o valor justo de certas peças. Mas, realço, as pessoas que REALMENTE não podem pagar o preço justo NÃO SÃO O PROBLEMA. Essas também não podem consumir roupa de uma forma desmedida… E as pessoas que têm capacidade económica para serem consumistas, podem sempre reduzir o consumo e optar por opções mais sustentáveis. O problema está muito mais no mindset do que na carteira.
Há apenas uma questão que creio que possa ser limitadora, para algumas pessoas. Nem todos, têm acesso (no sentido fisico) a certas opções. Por exemplo, algumas pessoas não têm/conhecem lojas com roupa em segunda mão perto de casa ou têm à vontade para comprar online*. Também existem tamanhos em que há pouca oferta. Isso, sem dúvida, pode ser uma dificuldade que temos de melhorar (enquanto “sistema”).
Bem, agora que já partilhei, fervorosamente lol, os meus pensamentos em relação a este tema, conto contigo para enriquecer esta conversa. Amanhã vou fazer uma publicação no feed do instagram sobre este tema, para “conversarmos” um bocadinho sobre isto. Espero por ti, lá! (quem não utilizar o instagram, mas quiser contribuir pode comentar aqui no blog ou enviar um email)
Se este tema te interessa, consulta a secção do blog sobre moda sustentável, onde encontrarás mais artigos.
*Se tiveres dificuldade em encontrar roupa em segunda mão, fica atenta aos diretos que estou a fazer, aos domingos, às 21h, no instagram a falar sobre o tema. E, no inicio do próximo mês, vou lançar um ebook sobre este tema. Para saberes sempre as novidades, podes subscrever a newsletter (formulário na lateral do blog ou no link disponível na bio do instagram).
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2 comentários
Joana
achei este artigo bastante elucidativo e interessante
hippiepanda
Olá, Joana! Fico muito feliz por teres achado útil 🙂 Grata pelo feedback