
Destralhar é sustentável? Reflexão

Há muito tempo que ando refletir sobre este tema, se destralhar é sustentável. Como irás perceber, isto não é uma critica ao destralhe em si. Nem um artigo com dados e referências. Será algo semelhante, ao que fiz neste artigo, sobre moda sustentável.
É, apenas, uma reflexão pessoal, que agora partilho contigo, sobre os benefícios de destralhar e quando é que destralhar pode trazer mais desvantagens do que vantagem.
O que é destralhar?
Antes de começar a partilhar os meus pensamentos, tenho de contextualizar quem ainda não está familiarizado com este termo. Possivelmente, se estás a ler o meu blog e acompanhas este projeto, já sabes o que é. Porém, se não é o caso, quero que consigas acompanhar esta reflexão também. Por isso, vamos lá!
Destralhar Retirar ou desembaraçar-se de tralha ou de coisas inúteis de (ex.: destralhar o sótão; vou destralhar e fazer uma limpeza de Primavera). "destralhar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/destralhar [consultado em 29-01-2022].
Basicamente, livrarmos-nos do que já não usamos.
Então, se é deixar de ter coisas que não usamos, destralhar é sustentável! Não! Ou melhor, não, NECESSÁRIAMENTE.
O fenómeno que me fez questionar a sustentabilidade deste ato, foi o motivo pelo qual temos tralha e pelo qual destralhamos.
Então, começando pelo inicio: porque é que a maioria das pessoas tem tanta tralha? Porque consome demasiado. E, no fundo, qual a motivo para muitas pessoas destralharem? bem, advinha…. Consumirem mais!
Eu sei que nem todos os casos têm esta motivação. Nem com isto quero dizer que devemos deixar de destralhar (pelo contrário, acho super importante!). O que eu quero dizer é que destralhar para consumir mais, obviamente, não é sustentável. Será mais sustentável não destralhar e não consumir mais.
Para o destralhe ser sustentável, temos de destralhar e não consumir mais, sem necessidade. Ou não destralhar artigos velhos (mas a funcionar) para comprar novos. Isso é (apenas) mais consumo.
Deparo-me, muitas vezes, com pessoas orgulhosas a dizerem-me que são super minimalistas. Para elas, ser super minimalistas, resume-se, a possuir poucas coisas. Então, como estão constantemente a comprar coisas novas e a destralhar as “velhas” (na melhor das hipóteses, a doando-as), consideram que têm um consumo super sustentável.
Dá para notar, como este tema me incomoda. Porque, realmente, não vejo ninguém a falar dele. Vejo um grande incentivo ao destralhe, mas, poucas pessoas, realçam que é importante percebermos porque chegámos, a determinado nível de tralha e que nos temos de desfazer dos objetos de forma responsável.
Destralhar é sustentável?
Formas responsáveis de destralhar
Há, duas coisas, que considero importantes, ao analisarmos esta questão: a forma como se volta a consumir (que já referi atrás) e a forma como nos desfazemos das coisas (foi referida atrás, mas será aprofundada agora). Esta questão, às vezes, é a parte mais difícil, porque as pessoas querem “livrar-se” das coisas rápido. Mas temos de compreender que temos responsabilidade, na forma como nos desfazemos. Devemos tentar encontrar bom destino para o que era nosso. Deitar fora e desresponsabilizarmo-nos pelo nosso consumo, é meio caminho por consumir mais sem pensar (para além do desperdício de recursos).
Por isso, deixo aqui algumas formas responsáveis de nos desfazermos das coisas que não querermos. Relembrando que o principal objetivo é encontrar alguém que as use!
- Vender os artigos – na minha opinião, quando os artigos estão bons, deve ser a 1ª opção. Vender em 2ª mão VALORIZA os artigos, estimula o mercado em segunda mão e inda nos pode dar algum retorno de dinheiro.
- Dar a amigos, familiares, vizinhos, etc – junto com a venda, esta é a opção que considero mais interessante. Pois, conseguimos perceber se são pessoas que irão usar (que é diferente de precisarem em termos financeiros);
- Trocar (em mercados de trocas, na internet)
- Dar a instituições
- Dar em grupos de destralhe
(Passa no instagram @hippiepanda_ pois vou fazer uma publicação com algumas informações, mas detalhadas sobre esta parte – como/onde encontrar destino para o que destralhamos).
Porque é que dar a instituições/fins de caridade não é a escolha que considero mais sustentável?
Eu acho ótimo sermos solidários e darmos a quem precisa mais que nós. Sem dúvida. A questão aqui é que, por vezes, as pessoas doam para caridade para se sentirem bem (e, eventualmente, consumirem mais). Na minha opinião, se o vosso objetivo é ajudar alguma causa, será melhor venderem as vossas coisas e darem dinheiro/exatamente aquilo que a instituição está a precisar. Caso a instituição esteja a precisar, exatamente, do que vocês se estão a desfazer, também fará sentido doar.
E quem gosta de estar sempre a mudar?
Bem, sei que há pessoas que simplesmente gostam de mudar. Gostam de variar a roupa, gostam de mudar de decoração. E, embora, muito se pregue o discurso de escolher coisas que irás gostar durante anos, creio que não é uma solução para todas as pessoas. Pelo menos, para todas as pessoas, durante toda a vida. A partir de certa idade, será mais fácil. Mas enquanto se é mais novo, quando ainda estamos a descobrir do que gostamos, etc, esta premissa não faz muito sentido.
Por isso, decidi dedicar dedicar algumas palavras apenas a isto.
Então, para quem gosta de variar, a melhor solução é trocar. Sem dúvida. Trocar em mercados de trocas, com amigos, na internet. Mas, caso não seja possível (nem todos temos acesso a estes meios) poderás vender e comprar em segunda mão. Obvio que não será um consumo tão imediato como comprando novo. Mas será MUITO mais sustentável. Assim, sempre que destralhares porque já não te identificas com determinadas coisas, poderás vendê-las e adquirir (EM SEGUNDA MÃO) peças que te identificas nesta nova fase.
Conclusão, destralhar é sustentável?
Potencialmente, sim!
Mas só se não o fizermos para consumir mais. E, formos responsáveis, na forma como encontramos destino, para as coisas que não queremos ! Ao destralhar de forma responsável, estamos a disponibilizar objetos que não usamos, para que outros os possam usar. E, assim, evitamos que mais recursos sejam gastos a fabricam mais coisas, quando já temos suficientes produzidas.
A quantidade de coisas que (quase todos, ocidentais) temos para destralhar, é reflexo de como falhámos a consumir. De como consumimos em (muito) excesso.
Espero que tenhas gostado desta reflexão que acabou por ser um pouco mais do que isso. Acabei por acrescentar algumas dicas. Caso tenhas queiras contribuir para esta reflexão, mesmo que com uma opinião totalmente diferente da minha, estás mais que convidada a fazê-lo nos comentários e/ou através do meu instagram. Várias cabeças pensam melhor do que uma sozinha :).
P.S. Caso o que fores destralhar não esteja mesmo usável, pesquisa na Wasteapp onde podes descartá-lo corretamente.

